domingo, 18 de abril de 2010

Meu Vô Bené

Meu Vô Bené  era um vovozinho magricela, de pele negra, cabelos grisalhos, boné branco de malandro (jeito de malandro, carismático como malandro, mas todos ressaltam: ele era trabalhador), calça social, camisa e cigarros (às vezes, um cachimbo também), que me chamava de pretinha e me comprava doces quase todos os dias (para meu delírio e de outras crianças da vizinhança). Minhas lembranças dele vão até meus quase 8 anos de idade, quando ele morreu aos 65 anos. O homem mais lindo e estiloso do mundo. O homem mais carinhoso e dedicado à família que eu conheço. Nascido em 9 de julho de 1923, casou aos 22 anos e trabalhou muito para sustentar os sete filhos (que já não precisavam, mas ele continou trabalhando assim mesmo, até seus 65 anos). Senhor Benedito Jesus da Silveira. Jesus por antecedência de negros escravos. Silveira por ter pai italiano, que herdou o nome sei lá de que movimentação histórica (imigrações, exílio, fuga). Mas hibridização é isso: não há uma origem que se possa localizar, tudo é e continuará um híbrido indecifrável. Seu pai só aparecia deves enquando, mas ganhou o privilégio do sétimo filho do meu Vô ter seu nome - Jovino da Silveira.
Meu Vô assistia TV na sua pequena televisão no quarto. Diferente da grande TV da sala, que só passava Xou da Xuxa para mim e minha irmã. Na televisão dele, só se assistia Sem Censura, com apresentação de Leda Nagle até hoje. Ou o extinto Canta Conto, com Bia Bedran, marcado à ferro e à fogo na minha memória de infância saudosa.
Meu Vô gostava de política, mas não se envolvia, só tinha opinião. Opinião que o levava a votar nos políticos que prometiam dias melhores para os trabalhadores. Brizola era um querido. Gostava de samba e de mulher, mas manteve-se ao lado de minha Vó até a morte os separar. Meu Vô conheceu gente que agora é importante, como o Zeca Pagodinho (chamado carinhosamente de "meu garoto"). E um monte de gente conhece meu Vô, meu solidário e querido Vô Bené.

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